Research

10.13.2011

A escolha



Os carros passavam velozes na avenida movimentada e o sol ia se pondo no horizonte, atrás dos prédios. A cidade, normalmente tão cinza, se cobria de cor. Mas não havia tempo para pensar nisso. A cada segundo a ansiedade crescia e as dúvidas aumentavam. Sabia que ainda havia tempo para correr, fugir, mudar de país, de nome, esquecer tudo. As mãos estavam geladas e o coração descompassado, mas não conseguiria mover os pés. Só restava esperar.                      

Catarina sentiu o arrepio na nuca anunciando a chegada, antes mesmo do carro preto ser visível no horizonte. Os batimentos do coração pararam por um segundo, o sangue se esvaiu do rosto e voltou em seguida, em pulsações fortes, quase doloridas. O carro de vidros escuros parou suavemente em sua frente e a porta traseira foi aberta. Agora sim, sabia que não poderia mais fugir.

- Entre no carro, por favor. – Veio a voz atrás da porta. Já havia passado mais de um minuto em que Catarina não conseguia desgrudar os pés do chão.

Ela sentia a excitação correndo pelas veias, como uma descarga elétrica. Não deveria ter aceito o convite, sabia disso com toda a certeza, mas não conseguiu se impedir de estar ali. Num impulso de coragem, rapidamente sentou-se no banco e fechou a porta. Olhou para as próprias mãos no colo e percebeu que havia furado a palma com as próprias unhas. Uma gota de sangue escorreu lentamente e caiu na perna nua enquanto encarava as mãos, mas estava entorpecida, não conseguia sentir a dor.

Percebeu as mãos tão conhecidas, mesmo que durante pouco tempo, chegando perto das suas. Sentiu a sensação antes mesmo de as peles se tocarem. – Isso foi desnecessário – disse César enquanto puxava os braços de Catarina para ver o ferimento de perto. Com o movimento dele, sentiu o impulso de virar o rosto para cima, mas não conseguiu reunir coragem suficiente.

Respirou fundo, tentando acalmar o coração, que batia forte, dolorosamente, tentando se acalmar. Foi subindo o olhar, das próprias mãos para o terno bem cortado que estava em frente, seguiu pelo pescoço, onde a barba já começava a despontar, e enfim chegou ao rosto.

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