Research

10.20.2011

Conto de uma noite só


Ele chegou como quem não quer nada, mas já estava observando-a desde o início da noite. Pediu uma Heineken, sentou no balcão. Os amigos continuavam lá, jogando sinuca e se divertindo. Ela estava sozinha, a amiga finalmente tinha saído para ir ao banheiro, essa era sua chance. Ela pegou um cigarro da bolsa, bebeu um gole da sua dose de absinto, parou, como se decidisse se acendia aquele cigarro ou não.

Foi a abertura que ele precisava, pegou o isqueiro e acendeu ao lado dela. Ela o olhou, como se não tivesse percebido que estava ali antes, foi um olhar demorado, intenso. Finalmente, colocou o cigarro na boca e aceitou o fogo que ele oferecia. Deu uma longa tragada, como se estivesse saboreando. Virou-se para frente novamente e soltou a fumaça.

Ele ficou ali, sem ação, depois de tantos flertes, levar tantas mulheres para a cama no final da noite, não sabia o que dizer. Pensou, com razão, que aquela não deveria ser do tipo que ri na primeira piadinha. Ela continuava olhando para o cigarro, como se ali houvesse um mistério, um enigma indecifrável. Colocou o cigarro no cinzeiro, se levantou com o copo na mão e foi para frente do palco.

Ele permaneceu sentado no banco, olhando a marca de batom vermelho no cigarro que ainda permanecia aceso. Continuou olhando hipnotizado para a fumaça que subia, até perceber que a tinha perdido de vista. Novamente. Resolveu deixar a Heineken, que nessa altura já estava quente, e seguiu para pista, no meio dos corpos se balançando. A banda, uns quarentões que achavam que sabiam tocar rock, começou os acordes de uma música do Men at Work. Ele sorriu.

Na frente do palco, ela também. Fechou os olhos e se balançou, no ritmo da música ou nem tanto assim, não se importava. Sentiu o toque em seu braço, abriu os olhos, ele estava na sua frente, mais uma vez. Sorriu ainda mais, sorriu com os olhos, sorriu com a alma. Deixou que pagasse sua mão, empurrou o copo de absinto na mão da amiga, que havia acabado de chegar ao seu lado.

Nada precisou ser dito. De mãos dadas saíram dali, subiram as escadas, respiraram o ar fresco da noite, que acabara de começar.

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