Research

5.07.2012

A Escolha II

*read the first "chapter" here



A pele pálida, de quem há muito tempo não passava um dia ao sol, o maxilar forte, o nariz reto, herdado de sua descendência grega, as sobrancelhas cerradas, que pesavam em sua expressão e caracterizavam tanto aquele rosto. Não sabia mais dizer se era bonito ou não, só sabia que era forte e que deveria desviar o olhar se quisesse manter sua decisão. Os olhos de César não a encaravam, entre eles um vinco de preocupação enquanto se concentrava em pegar o lenço do bolso para comprimir o ferimento.

Catarina voltou o olhar para baixo quando ele apertou sua mão e viu o tecido azul se colorindo com o vermelho. – Desculpe – disse. Sabia que não havia motivos para desculpar-se, mas era um hábito que não conseguia impedir, principalmente da maneira como se sentia agora, como se estivesse presa entre a realidade e o sonho, não conseguia se concentrar no que deveria estar fazendo ali.

Bastavam dois minutos ao lado de César para a verdade tomar conta de Catarina, ele era seu dono. Sim, essa era a descrição mais sucinta e ao mesmo tempo completa da relação ente os dois, César possuía o controle, sobre seu corpo, sua alma, seus sentimentos. E mesmo assim, com suas mãos unidas, sentada sobre o banco frio daquele carro, ela sabia que estava caindo novamente no limbo, onde a linha entre prazer e dor era tão tênue, praticamente inexistente.

O conflito de se sentir tão segura ao lado de um homem tão perigoso, tão cruel, depois de tudo que presenciou, escutou e descobriu. A raiva começava a se manifestar novamente, com aquele peso no coração tão característico. Mas, como se concentrar nela enquanto o desejo crescia na mesma proporção? Gostaria de poder se dividir em duas, em mil, para agüentar todas essas emoções tão devastadoras.

- Você está se perdendo em pensamentos novamente, olha para mim – falou César de repente. Talvez não tão de surpresa assim, ele deveria estar observando-a enquanto essa mistura de sentimentos tornava-se cada vez maior e mais irritante. – Não, não estou – mentiu Catarina. Você sabe exatamente tudo o que descobri, tudo o que aconteceu, e até agora não me explicou seus motivos, aliás, nem mesmo o porquê de eu estar aqui.

- Nenhum de nós dois precisa de motivos, você sabe, você sente isso Catarina. Não seja infantil – começou César. Não vejo razão para você ter tanto medo de estar aqui, sou eu, meu anjo. 

2 comentários:

  1. Você se supera a cada palavra digitada.
    Bem de acordo com sua proposta:
    Limitless!
    Gostei muito.
    Continue.

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  2. Hum, estou surpresa. A maneira de descrever a cena, os detalhes, os sentimentos... você está adquirindo elementos próprios de narratividade Mari, isso é muito bom!
    E estou curiosa, quero mais!

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