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A pele pálida, de quem há muito tempo não
passava um dia ao sol, o maxilar forte, o nariz reto, herdado de sua descendência grega, as sobrancelhas cerradas, que pesavam em sua expressão e
caracterizavam tanto aquele rosto. Não sabia mais dizer se era bonito ou não,
só sabia que era forte e que deveria desviar o olhar se quisesse manter sua
decisão. Os olhos de César não a encaravam, entre eles um vinco de preocupação
enquanto se concentrava em pegar o lenço do bolso para comprimir o ferimento.
Catarina voltou o olhar para baixo quando ele
apertou sua mão e viu o tecido azul se colorindo com o vermelho. – Desculpe –
disse. Sabia que não havia motivos para desculpar-se, mas era um hábito que não
conseguia impedir, principalmente da maneira como se sentia agora, como se
estivesse presa entre a realidade e o sonho, não conseguia se concentrar no que
deveria estar fazendo ali.
Bastavam dois minutos ao lado de César para a
verdade tomar conta de Catarina, ele era seu dono. Sim, essa era a descrição
mais sucinta e ao mesmo tempo completa da relação ente os dois, César possuía o
controle, sobre seu corpo, sua alma, seus sentimentos. E mesmo assim, com suas
mãos unidas, sentada sobre o banco frio daquele carro, ela sabia que estava
caindo novamente no limbo, onde a linha entre prazer e dor era tão tênue,
praticamente inexistente.
O conflito de se sentir tão segura ao lado de
um homem tão perigoso, tão cruel, depois de tudo que presenciou, escutou e
descobriu. A raiva começava a se manifestar novamente, com aquele peso no
coração tão característico. Mas, como se concentrar nela enquanto o desejo
crescia na mesma proporção? Gostaria de poder se dividir em duas, em mil, para
agüentar todas essas emoções tão devastadoras.
- Você está se perdendo em pensamentos
novamente, olha para mim – falou César de repente. Talvez não tão de surpresa
assim, ele deveria estar observando-a enquanto essa mistura de sentimentos tornava-se cada vez maior e mais irritante. – Não, não estou – mentiu Catarina.
Você sabe exatamente tudo o que descobri, tudo o que aconteceu, e até agora não
me explicou seus motivos, aliás, nem mesmo o porquê de eu estar aqui.
- Nenhum de nós dois precisa de motivos, você sabe, você sente
isso Catarina. Não seja infantil – começou César. Não vejo razão para você ter
tanto medo de estar aqui, sou eu, meu anjo.